Abadia Santa Maria de Fontfroide
Num dia radiante, deixamos Narbonne rumo a Carcassonne e fizemos uma pausa na Abadia de Santa Maria de Fontfroide. Fundada em 1093 por Aimery I, visconde de Narbonne, e reerguida ao estilo cisterciense em 1144, a Abadia ergue‑se junto a um riacho cujo nome latino, Fons Frigidi (“fonte de água fria”), batizou o mosteiro.
Ali, caminhamos por salas românicas, jardins perfumados de rosas cultivadas o ano inteiro, e sentimos a presença viva de frades e santos que marcaram sua trajetória ― do combate aos cátaros ao refúgio de um futuro Papa e de São Antônio Maria Claret. E, claro, não faltou água fresca, história e um desejo de voltar para provar os vinhos produzidos pelos monges.
1. A Caminho de Fontfroide
Saímos de Narbonne — cidade romana de beleza ímpar — em direção ao sul, por estradas ladeadas de vinhedos e araucárias. A apenas 15 km de Narbonne, no coração do Maciço das Corbières, avistamos os muros da abadia, protegidos pela Mata de Fontfroide e por trilhas que convidam a longas caminhadas



2. Fundação e Filiação Cisterciense
Em 1093, Aimery I ofereceu terras ricas em madeira e pedra a um pequeno grupo de monges beneditinos, mas o mosteiro só alcançou prestígio quando, em 1144, se vinculou à reforma cisterciense. Pouco depois, tornou‑se casa‑mãe da célebre abadia de Poblet, na Catalunha, consolidando riqueza e influência graças às doações da viscondessa Ermengarde de Narbonne
3. Defesa contra os Cátaros
Desde o século XII, Fontfroide esteve no centro das lutas religiosas do Languedoc. Junto ao Papa Inocêncio III, os monges combateram a doutrina herética dos cátaros que florescia na região. Imaginei como fosse caminhar à noite pelos claustros, ecoando antigos cânticos em defesa da ortodoxia medieval.
4. O Frade que se Tornou Papa
Entre 1311 e 1317, Jacques Fournier foi abade de Fontfroide. Anos depois, como Bento XII, reinou em Avignon de 1334 a 1342 e prosseguiu o combate à heresia, deixando registros preciosos da Inquisição Sentar‑me no refeitório, onde ele uma vez presidiu às refeições, trouxe uma sensação de continuidade histórica impressionante.

5. São Antônio Maria Claret em Exílio
No século XIX, o espanhol Antônio Maria Claret — confessor da rainha Isabel II de Espanha — buscou refúgio em Fontfroide e aqui faleceu em 1870. Foi venerado, beatificado em 1934 e canonizado em 1950; muitos peregrinos ainda visitam seu túmulo na abadia Ao percorrer o claustro silencioso, senti respeito pela memória deste grande missionário.

6. Jardins, Restauração e Atmosfera Medieval
Os jardins de Fontfroide são um luxo: rosas e flores perfumadas florescem o ano todo, graças à dedicação de jardineiros que preservam espécies antigas e criam cenários de contemplação. As restaurações, iniciadas em 1908 pelos artistas Gustave e Madeleine Fayet, foram meticulosas e respeitaram cada traço românico e gótico. É raro encontrar um espaço tão bem preservado, onde cada arco e coluna contam a história de quase mil anos.





7. Vinhos da Abadia
Fontfroide produz vinhos de denominação Corbières que valem a pena. Há passeios de degustação guiados pelos próprios frades — dizem que é uma experiência que combina história, espiritualidade e aromas intensos das castas locais. Infelizmente, não tivemos tempo para provar, mas prometemos voltar para brindar entre as vinhas antigas.
8. Trilhas e Refúgio na Natureza
Se dispuséssemos de mais tempo, teríamos percorrido as trilhas da mata e dos imensos jardins arbóreos, onde se pode caminhar por mais de uma hora em meio a oliveiras, pinheiros e fontes cristalinas. Cada passo revela uma clareira, um recanto florido, um banco de pedra para meditar à sombra.




9. Fontfroide, Destaque entre os Passeios de Narbonne
Fontfroide é unanimidade entre guias e viajantes: o “melhor passeio” da região de Narbonne.
Paramos na Abadia para almoçar, antes de seguir para Carcassonne ou para explorar a costa. Infelizmente era tarde e o almoço estava esgotado mas comemos uma torta de amendoas simplesmente deliciosa.

Como boas-vindas ao universo medieval do Languedoc, a abadia supera expectativas com seu equilíbrio entre austeridade monástica e encanto natural.
Saímos com o coração leve e a certeza de que Fontfroide é mais que um monumento: é um lugar vivo, onde o passado se encontra com o presente em cada pedra, rosa e taça de vinho. Mal podemos esperar para retornar e explorar cada trilha, brindar aos monges que ainda mantêm viva uma tradição secular, e agradecer pela riqueza de história que floresce a cada primavera — e o ano inteiro.
Outro passeio de lugares históricos na França é o das Catacumbas de Paris, um passeio fora do Óbvio.
Veja também no Blog Expedições em Família o post sobre o Museu da Inconfidência em Ouro Preto: História, Acervo e Visitação
Que local incrível. Fiquei com imensa vontade de visitar a Abadia Santa Maria de Frontfroide. Sou apaixonada por monumentos religiosos e ver as suas fotos e ler o seu post me deixou encantada com esse lugar